Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

27/11/2007

Pólen fossilizado conta história da vegetação da costa norte amazônica

Bióloga analisou fósseis de pólen para reconstruir o ambiente de 2.000 anos atrás.

Alguns campos da planície costeira leste da Ilha do Marajó, no estado do Pará, eram manguezais há cerca de dois milênios. Foi o que concluiu a bióloga Lívia Rodrigues em sua dissertação de mestrado, intitulada “Análise Palinológica de Sedimentos do Testemunho Bom Jesus, Ilha do Marajó, PA”.

Como ela verificou isso? Analisando grãos de pólen fossilizados encontrados no solo da região. “É possível reconstruir um ambiente por meio do estudo do pólen”, explica Lívia.

O trabalho foi desenvolvido sob a orientação da pesquisadora Cristina Senna, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT), e integra as atividades do Laboratório de Palinologia e Paleoecologia da Amazônia (LAPPAM), da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE) do MPEG.

O mestrado foi defendido pelo Programa de Pós-graduação em Botânica mantido pelo Museu Goeldi em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).

“O pólen é como se fosse a impressão digital da planta. Toda espécie tem o seu pólen característico que, além de ser muito resistente, se preserva em sedimento”, afirma a bióloga. Ela ressalta que a análise palinológica – o estudo da estrutura do grão de pólen – possibilita a reconstrução de todo um paleoambiente, ou seja, do ambiente de outras eras geológicas.

E foi assim que Lívia traçou o perfil da vegetação que caracterizava a planície costeira leste da Ilha do Marajó há 2.000 anos atrás. Por dois anos, ela se debruçou sobre um testemunho, que é uma espécie de amostra sedimentar, retirado da Fazenda Bom Jesus, localizada no arquipélago, visando a conhecer melhor o Holoceno Superior, era geológica cujo início coincide com o nascimento de Jesus Cristo, da costa norte amazônica.

O testemunho analisado foi cedido pela professora Carmina França, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e data de 2.730 anos atrás.

Mas como Lívia constatou que as áreas, onde hoje são campos, constituíam-se em mangues no passado? “Percebi a presença de Rizophora, espécie característica de mangues, nessas regiões”, informa.

“O mangue é dominante nesta localidade do Marajó, mas sua ocorrência tem diminuído em função de variações climáticas, das condições de marés, dentre outros fatores que contribuíram para a substituição deste ecossistema por campos inundáveis associados a restingas e várzeas de maré”, conta a bióloga.

A pesquisa de Lívia define um trabalho de paleoecologia, ou seja, de reconstrução dos ecossistemas, que caracterizavam a região em outras eras, e das alterações que eles sofreram.

“É um trabalho multidisciplinar. Tive que buscar noções de Física, Estatística e de outros ramos da Biologia para finalizá-lo. A análise palinológica foi a ferramenta que melhor se adequou ao meu objetivo”, diz.

A dissertação de mestrado de Lívia Rodrigues é mais uma peça chave de um importante quebra-cabeça. Para a bióloga, “a costa norte amazônica é composta por um cinturão quase contínuo de mangue”. Ela recorreu a trabalhos produzidos em outros lugares, como a Venezuela, que também objetivam conhecer a história evolutiva desta área, para fazer uma comparação e chegar à sua conclusão final.

“Meu intuito é localizar as alterações, que ocorreram no Marajó, no contexto da costa norte amazônica, e ver se o que acontece aqui está de acordo com o que ocorre em outras regiões deste litoral. Esta pesquisa pode auxiliar na proteção à diversidade da flora local”, finaliza.

Antonio Fausto - Agência Museu Goeldi

Fonte: Agência CT


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