Biologia & Ciências
26/08/2013
Salamandras na Amazônia
Por UFSCTrês espécies de salamandras são descobertas na Amazônia brasileira.
Após dois anos de estudos, uma equipe de pesquisadores divulgou a descoberta de três espécies de salamandra, originárias da região amazônica. A pesquisa foi publicada na edição de julho da revista internacional Zootaxa.
Até o momento havia apenas duas espécies catalogadas, a Bolitoglossa paraensis e a Bolitoglossa altamazonica. O estudo, que analisou 278 indivíduos, concluiu que são cinco espécies diferentes. A descoberta faz parte da pesquisa de mestrado da bióloga Isabela Carvalho Brcko, junto à Universidade Federal do Pará (UFPA), e que teve orientação do professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Selvino Neckel de Oliveira, e do pesquisador do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), Marinus Hoogmoed.
O objetivo da pesquisa foi investigar se, diante da diversidade da Amazônia, existiriam apenas duas espécies de salamandras. Por meio de colaboração com instituições de pesquisa da região amazônica e também da Colômbia e dos Estados Unidos, os pesquisadores começaram a receber os exemplares descritos como Bolitoglossa parensis, conservados em formol, que fazem parte das coleções científicas dessas instituições. A partir da análise de características morfológicas de cada exemplar, os pesquisadores concluíram que, na verdade, tratam-se de cinco espécies diferentes, a B. altamazonica, a B.paraensis e três outras novas espécies, que foram batizadas de B. caldwellae sp. nov., B. madeira sp. nov. e B. tapajonica sp. nov.
Para o professor Selvino Neckel de Oliveira, que é pioneiro no Brasil na pesquisa sobre salamandras, esta é uma das mais importantes descobertas científicas na área, pois se trata de um grupo de anfíbios pouco conhecido pela comunidade científica. “Ainda há muitas espécies para ser conhecidas e descritas. A descoberta reflete a situação atual da biodiversidade brasileira – de que ainda sabemos muito pouco sobre ela.
A descrição de uma nova espécie representa mais uma ferramenta que poderá auxiliar na criação ou mesmo na proteção de unidades de conservação representativas da nossa biodiversidade”, analisa o professor. O próximo passo da pesquisa é analisar o DNA. “É uma forma de descobrir o grau de parentesco entre elas, ou seja, entender como o processo de especiação ocorreu ao longo do tempo”, explica o professor Selvino.
Trajetória de 23 milhões de anos
As salamandras sul americanas são pequenos anfíbios, que podem medir de 3 a 12 centímetros de comprimento, respiram pela pele devido a ausência de pulmões e vivem geralmente em ambientes úmidos, na vegetação baixa, onde se alimentam de pequenos invertebrados, como cupins, formigas, besouros. Seus predadores são serpentes, gaviões e gambás. No Brasil só ocorrem na região amazônica.
O professor Selvino explica que as salamandras vieram da América do Norte há aproximadamente 23 milhões de anos. “Partindo de lá, passaram pelo istmo do Panamá e seguiram pelos Andes até a foz do Rio Amazonas, onde, em função do isolamento na floresta tropical, deu origem a novas espécies”, explica. Dadas as suas características fisiológicas, salamandras servem como indicadores de qualidade do ambiente, tanto em relação a mudanças climáticas, como a perda de hábitats. “Se naquele local existiam salamandras e hoje elas não são mais encontradas é porque alguma alteração ambiental está acontecendo”, explica o professor Selvino.
Os cientistas ainda não conseguiram fazer estimativas do tamanho e da distribuição das populações das espécies recém catalogadas para saber se correm risco de serem extintas, como é o caso da B. paraensis, que está na lista de espécies ameaçadas no estado do Pará. Ela só foi encontrada na região de Belém, uma área urbana com mais de 3 milhões de habitantes que avança rapidamente sobre os remanescentes florestais.
No entanto, os cientistas já sabem que as ameaças existem para as novas espécies. A B. madeira sp. nov. vive na região do Rio Madeira, onde estão sendo construídas as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia. A espécie B. tapajonica sp. nov. vive na região do Rio Tapajós, no Pará, em uma área de mineração de bauxita.
A única que está relativamente protegida é a B. caldwellae, que pode ser encontrada no Acre. “Foram 23 milhões de anos de evolução para conquistar a Amazônia brasileira, e hoje, devido às atividades econômicas na região, essa conquista poderá ser perdida”, conclui.
Esta notícia foi publicada em 23/08/2013 no site noticias.ufsc.br. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.