Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

27/03/2013

Mudanças climáticas exigem mais empenho

Por Julia Pyper e ClimateWire

De acordo com especialistas, o mundo já está a caminho de um futuro mais quente e, sem mudanças radicais, o aumento de temperatura em breve atingirá níveis críticos.

Cientistas estimam que o planeta já se aqueceu cerca de 0,8 graus Celsius desde os anos 1850, e novas projeções põem o aumento de temperatura em até quatro graus até meados do século 21, se os níveis atuais de emissões persistirem.

As reduções de gás estufa até o momento não estão conseguindo abordar a mudança climática, declara Naoko Ishii, CEO da Global Environment Facility (GEF), o mecanismo financeiro do Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima.

“Estamos na pista errada em termos de administração ambiental global”, declarou Ishii no dia 20 de março, em uma discussão da Associação Americana para o Avanço das Ciências. “Estamos perigosamente perto dos limites de fronteiras planetárias seguras, e estamos correndo contra o tempo”.

De acordo com um relatório recente do Painel Conselheiro de Ciência e Tecnologia (STAP) da GEF, com os níveis atuais de emissões, o aquecimento poderia atingir 2oC em 2030 e até 6oC antes do fim do século.

“O relatório deixa perfeitamente claro que melhorias incrementais... não serão suficientes”, apontou Ishii. “Precisamos de uma mudança transformacional para deter essa espiral descendente que é muito, muito preocupante”.

Restam maneiras viáveis de diminuir a diferença

Em 2011, nas negociações da ONU sobre o clima em Durban, na África do Sul, a comunidade global concordou em assinar um tratado climático internacional em 2015 que entraria em efeito em 2020 com o objetivo de manter o aumento de temperatura abaixo de 2oC até o fim do século.

Para alcançar essa meta, o “Emissions Gap Report 2012” [“Relatório de Diferenças de Emissões”, em tradução aproximada] do Programa Ambiental da ONU (UNEP) descobriu que emissões de gás estufa precisavam atingir um pico por volta de 2020 ou antes. As emissões precisam estar um quarto abaixo dos níveis atuais até 2030, e 50% abaixo dos níveis atuais até 2050.

Se todas as promessas de reduzir emissões de gases estufa fossem instauradas, ainda haveria um excedente de 14 gigatoneladas na quantidade de emissões produzidas em relação ao necessário. O relatório da UNEP, no entanto, também determinou que existem maneiras economicamente viáveis de diminuir a diferença.

De acordo com Joseph Alcamo, cientista chefe da UNEP, combinando observância estrita com promessas mais ambiciosas, existe o potencial de reduzir emissões em 17 gigatoneladas. Mas o segredo é perseguir pacotes políticos que apelam a interesses nacionais e locais.

De acordo com ele, a instauração do trânsito rápido de ônibus [Bus Rapid Transit] e de padrões de desempenho de veículos, por exemplo, tem efeitos quase imediatos e calculáveis sobre a melhoria da qualidade do ar e de facilitar o tráfego. As medidas têm o benefício adicional de reduzir emissões de carbono.

“As pessoas envolvidas na mudança climática foram limitadas com a mitigação; agora precisamos ver conexões múltiplas entre políticas de mitigação climática e o aumento do bem-estar por todos os lados”, declara Alcamo.

O relatório do STAP especificamente recomenda que a GEF reforce a ajuda na transição de países em desenvolvimento para uma economia de baixo carbono. Ele sugere uma mudança da promoção de tecnologia-única ou soluções de setor-único para soluções sistemáticas que combinam a redução da demanda energética com o desenvolvimento de políticas e inovadores sistemas tecnológicos de informações, por exemplo.

Envolvimento do setor privado é essencial

Governos e instituições também devem abordar a adaptação, adiciona Rosina Beirbaum, um professor de recursos naturais e do ambiente da University of Michigan. “Quanto mais esperarmos, mais caras e menos eficazes serão as medidas de adaptação”, explicou ela.

Enfrentar a mudança climática de maneira eficaz exigiria investir 2% do produto interno bruto global, ou US$1,5 trilhão por ano, para deter o aumento de emissões de gás estufa, declara Pavan Sukhdev, diretor da Iniciativa Conselheira Economia Verde, da UNEP.

O financiamento de grupos como o GEF e o Banco Mundial podem ser alavancadas para instaurar programas eficazes de descarbonização, mas para haver uma transformação real na direção do crescimento de baixo carbono, argumenta ele, o financiamento deve vir do setor privado.

O setor privado constitui cerca de 75% do PIB dos Estados Unidos, e cerca de 60% do PIB global, aponta Sukhdev. Ele recomendou mudar o comportamento das corporações com políticas que promovem publicidade responsável, taxação de recursos e medidas para corporações publicarem os custos reais de suas ações além de dólares e centavos.

“Se o setor privado atual estiver empurrando a economia na direção do uso de recursos... queremos pôr as mãos na necessidade de mudar a maneira como o setor privado incentiva e opera”, declara ele.

“O que o mundo precisa não é de mais dinheiro, mas de dinheiro mais bem gasto”, adiciona.


Esta notícia foi publicada em 03/2012 no site www.uol.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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