Biologia & Ciências
12/11/2007
Cérebros em rede
O lançamento do site do Programa de Cooperação Interinstitucional de Apoio à Pesquisa sobre o Cérebro (CInAPCe), nesta quinta-feira (8/11) às 15 horas, marca o início de uma nova etapa no programa criado pela FAPESP há três anos para apoiar projetos de pesquisas em neurociências.
Segundo Fernando Cendes, coordenador-geral do CInAPCe e professor do Departamento de Neurologia da FCM, o lançamento do site, www.cinapce.org.br, ocorre no momento em que o programa entra em uma fase de consolidação e adquire equipamentos de grande porte.
“As atividades de pesquisa começaram efetivamente em 2007, depois de três anos de articulações para envolver diversos centros de pesquisa em trabalhos conjuntos. Ao mesmo tempo, o processo de importação dos equipamentos está em fase final”, disse Cendes à Agência FAPESP.
Seguindo o modelo utilizado nos programas Genoma e Biota, também da FAPESP, o CInAPCe prevê a formação de uma rede de cooperação entre diversos grupos de pesquisa paulistas. De acordo com Cendes, o programa tem atraído grande número de doutorandos e pós-doutorandos.
“Há uma série de projetos em andamento ligados ao CInAPCe. Na próxima reunião poderemos, pelo número de bolsas, avaliar quantos pesquisadores estão envolvidos. Mas já sabemos que o grupo tem tido um crescimento muito grande”, disse.
Um dos principais interesses do programa, segundo Cendes, é a implantação de infra-estrutura adequada para a pesquisa. São Paulo conta hoje, por exemplo, com vários equipamentos de ressonância magnética de 1,5 tesla (medida de indução magnética e de densidade de fluxo magnético), mas nenhum de 3 tesla.
“Adquirimos uma dessas máquinas, que será operada em rede, otimizando recursos técnicos e humanos para a pesquisa em neurociências – que é um dos objetivos do programa”, contou.
O coordenador-geral do programa explica que a densidade maior de fluxo magnético do equipamento de 3 tesla poderá ser fundamental para resolver determinados problemas científicos. “Muitas vezes o pesquisador tem perguntas relevantes que não podem ser respondidas por falta de ferramentas adequadas.”
Além disso, o equipamento incorpora novas tecnologias que serão úteis do ponto de vista da inovação tecnológica. “Vamos trabalhar junto ao fabricante no desenvolvimento de componentes para o aparelho”, disse.
A parceria entre universidade e empresa, segundo Cendes, permitirá que os protocolos de aquisição oferecidos pelo fabricante sejam abertos, possibilitando que os pesquisadores brasileiros desenvolvam novos componentes de acordo com as necessidades científicas. “Temos profissionais de todas as áreas com know-how para desenvolver novas patentes nessa área. A parceria permitirá isso”, afirmou.
De agora em diante, segundo o professor, a tendência é que o grupo cresça e se torne cada vez mais estruturado. “Os pesquisadores que entram no programa mantêm a independência, mas se beneficiam da atuação em grupo, potencializando sua capacidade de produção científica”, disse.
Multidisciplinar por natureza, a área de neurociências evolui mais rapidamente com a atuação em redes de pesquisadores que reúnem diferentes abordagens, segundo Cendes. “Além de possibilitar um pensamento científico mais elaborado, a visão a partir de ângulos distintos aumenta as chances de aparecimento de projetos inovadores que realmente façam diferença”, explicou.
O CInAPCe pretende montar uma rede de alta velocidade interligando os centros de pesquisa participantes. “É possível que essa rede seja vinculada ao projeto KyaTera”, disse.
As diretrizes do programa definem que, em sua primeira fase, ele apoiaria projetos de pesquisa voltados para o estudo da epilepsia a partir de sistemas de ressonância magnética.
“O programa já conta com diversos trabalhos em vias de publicação. Alguns deles renderam prêmios internacionais a estudantes de pós-graduação. A pesquisa está em andamento. Nosso desafio agora é prestar contas em termos de produção científica inovadora e aumentar a integração dos centros”, destacou Cendes.
Por Fábio de Castro