Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

27/07/2012

Genética e a Rota dos Povos nas Américas

Fonte: Infoglobo
Genética revela as rota dos povos pioneiros das Américas.
Estudo derruba teorias e indica três grandes levas de migrantes da Ásia
Três ondas migratórias povoaram as Américas — a primeira e maior delas atravessou a Beríngia, a ligação terrestre hoje inexistente entre Ásia e Alasca, há mais de 15 mil anos. A conclusão, publicada na edição de ontem da revista “Nature”, é de uma pesquisa que analisou o mapa genético de 69 comunidades nativas americanas. O mais extenso levantamento sobre a chegada do homem ao continente enterrou a teoria de que houve apenas uma grande leva populacional. E, ainda, revelou que houve fluxos de volta à Ásia, embora suas motivações não sejam conhecidas.
A maior onda migratória para as Américas seguiu-se ao derretimento de geleiras que bloqueavam a entrada no continente. O novo território foi explorado a partir do litoral do Pacífico. De lá, a população deslocou-se para o Sul e para o interior. A mistura entre diferentes comunidades ameríndias ocorreu principalmente entre o México e o Panamá; quando chegou à América do Sul, a maioria optou por continuar seguindo a costa. Um grupo, no entanto, rumou para os Andes. De lá chegou à Amazônia, descendo depois para o que hoje é o Brasil. Quanto mais ao Sul, maior é o isolamento genético e cultural das tribos.
— Não estimamos a data dos dois outros fluxos — ressalta Maria Cátira Bortolini, pesquisadora do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que participou do estudo. — Talvez eles tenham se estendido por um período longo. Pode ser que tenham vindo por navegação. Os esquimós até hoje usam caiaques para se mover pelo Ártico.
Esta população, aliás, foi a mais influenciada pela segunda leva. Cerca de metade da herança genética dos esquimós da Groenlândia e do Canadá vem desta onda migratória. O terceiro fluxo também teria se limitado ao norte das Américas: vem dele 10% do genoma das comunidades cuja família linguística é o chipewyan, hoje ainda conhecida por cerca de 11 mil pessoas.
— Outra revelação foi a existência, constatada por marcadores genéticos, de migrações de volta para a Ásia, embora em menor quantidade do que aqueles que se fixaram no continente — acrescenta María Luiza Petzl-Erler, professora do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná, que também contribuiu com o levantamento da “Nature”. — O homem era, na época, caçador-coletor. A agricultura só apareceu 10 mil anos atrás. Até então, havia uma maior necessidade de deslocamento das comunidades.
O estudo, liderado por David Reich, da Escola de Medicina de Harvard, contou com a colaboração de pesquisadores de dez países americanos, além de instituições europeias e asiáticas. Com o banco de dados construído, a UFRGS espera progredir em trabalhos específicos sobre a população brasileira.

Esta notícia foi acessada no dia 27/07/2012 no site do Jornal O Globo. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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