Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

16/04/2012

Brasil: conheça espécies invasoras que podem causar problemas

Causadoras de problemas sociais e ambientais, algumas espécies exóticas são consideradas invasoras - ou seja, segundo a Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica, estão fora de seu habitat natural e ameaçam outros ecossistemas ou outras espécies, passando a exercer dominância em ambientes naturais. Há diversos séculos, por diferentes formas, essas espécies são introduzidas em ecossistemas do mundo todo, até mesmo na Antártida, onde sementes levadas inadvertidamente por turistas e cientistas ameaçam o já frágil ecossistema da região.
No Brasil, a situação não é diferente: várias espécies invasoras, introduzidas por diversas razões, desde econômicas até pelo trânsito de navios na costa do país, podem causar danos sociais e ambientais, como liberação de toxinas e alto consumo de água em regiões marcadas pela seca. A seguir, saiba mais sobre 10 espécies exóticas de animais, algas e plantas presentes no país, como os locais onde estão presentes e os problemas que podem acarretar.
Lírio-do-brejo
Nativo da Ásia, o lírio-do-brejo, com nome científico de Hedychium coronarium, foi introduzido no Brasil como planta ornamental, e foi rapidamente difundido pelo país inteiro, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Com grande capacidade de resistência, a planta se adapta facilmente às margens de lagos e espelhos d'àgua. O lírio-do-brejo pode, além de invadir canais e riachos e entupir as tubulações de hidrelétricas, causar outros problemas.
"Ele foi introduzido propositalmente, sendo uma espécie que brota facilmente e tem grande capacidade de resistência. Por não conviver com outras espécies, a planta expulsa as plantas nativas de seu habitat, sendo um problema bem grave, especialmente nas regiões de floresta atlântica", explica Sílvia Ziller, engenheira florestal e fundadora do Instituto Hórus, especializado em espécies invasoras.
Nim
Com um grande potencial de invasão, a Azadirachta indica, mais conhecida como nim, é nativa da Índia e foi distribuída em diversos países, especialmente em regiões de clima árido, sendo encontrada especialmente no nordeste brasileiro. "É uma planta usada no controle de pragas, sendo disseminada por morcegos e tendo um potencial de invasão muito grande. E como foi distribuída sem nenhum cuidado, com pouco controle, por volta dos anos 2000, ela consegue realizar uma destruição avassaladora de espécies nativas", lamenta Sílvia Ziller engenheira florestal e fundadora do Instituto Hórus.
Algaroba
Tendo diversos sinônimos, entre eles o nome científico Prosopis juliflora, a algaroba é natural de regiões áridas e semiáridas dos Estados Unidos e México, e foi introduzida no Brasil especialmente na caatinga nordestina, como forrageira para cabras. Causa problemas como invasão de pastagens e desgaste dos dentes dos animais. Sem poder se alimentar, os animais morrem mais cedo.
"Como as cabras comem as flores, que têm resinas, são muitas as queixas de que o animal acaba morrendo antes do tempo normal. Além disso, a algaroba tem raízes mais profundas, o que gera um aprofundamento do lençol freático, consumindo muita água justamente em regiões áridas", afirma a engenheira florestal Sílvia Ziller.
Braquiária
Presente em pastagens de todo o país, a braquiária (Urochloa brizantha) também conhecida como capim-marandu, foi introduzida, durante o século XX, nos solos brasileiros, após a importação de sementes originárias do continente africano. "É uma espécie que tem um impacto bastante forte: áreas imensas de vegetação original no cerrado, por exemplo, foram substituídas pela braquiária. E isso ocorre pelo seu vigor muito grande de retorno: você elimina e ela nasce de volta rapidamente. Essa espécie foi introduzida com finalidade econômica, mas foi semeada sem nenhuma análise", destaca Sílvia Ziller.
Dinoflagelado
Introduzidas especialmente durante o trânsito de navios, algas microscópicas, como o dinoflagelado (Alexandrium tamarense) estão presentes na costa brasileira, sendo identificadas pela primeira vez na década de 1980, na Argentina, e na década de 1990, no litoral do Rio Grande do Sul. Geralmente imperceptíveis, essas algas produtoras de toxinas costumam ser notadas apenas no chamado período de floração, quando se formam as marés vermelhas, com explosivo aumento de suas populações.
"Elas são introduzidas a partir da água de lastro: para os navios terem mais estabilidade, os seus porões são carregados com água do mar, que é despejada quando as embarcações chegam aos portos. Virou um problema muito sério, pois o impacto desses micro-organismos tem aumentado nos últimos anos. Essas algas são consumidas pelas ostras, e suas toxinas podem contaminá-las. Por isso, existem épocas em que o consumo de ostra é proibido", ressalta a engenheira florestal e presidente do Instituto Hórus Sílvia Ziller.
Tilápia-do-nilo
Nativa da região do rio Nilo, no Egito, a Oreochromis niloticus, mais conhecida como tilápia-do-nilo, foi introduzida no Brasil desde o século XX, bem como em diversos países com água tropical. Por sua grande capacidade de reprodução e comportamento onívoro, alimentando-se de plantas e outros animais, a tilápia-do-nilo é considerada uma grande predadora. "É um peixe que tem um histórico de extinção de outras espécies, sendo um problema muito grave em diversos países africanos e asiáticos. Muitas vezes, as pessoas acham que estão fazendo uma coisa boa ao introduzir esses peixes nos rios, mas eles passam a exterminar espécies nativas", afirma Sílvia.
Aedes Aegypti
Conhecido por ser o vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti é próprio de regiões tropicais e subtropicais, originário da Etiópia e do Egito. Chegado ao Brasil durante a escravidão, se reproduz principalmente em recipientes artificiais onde ocorre acúmulo de água, como latas e vasos. Apesar de ser frequentemente associado a doenças, o mosquito nem sempre está contaminado, podendo também não representar um perigo em todos os casos. "O mosquito pode não ser sinônimo de mortes e prejuízo, pois o Aedes pode ser vetor da dengue, mas nem sempre está contaminado com a doença. A mesma coisa ocorre com os seres humanos: nós todos somos vetores de doenças, mas não estamos necessariamente contaminados", compara a engenheira florestal.
Abelha africana
Introduzida em todo o Brasil por iniciativa governamental, a fim de aumentar a produção de mel do país, a Apis mellifera, também chamada de abelha africana, espalhou-se rapidamente por toda a América do Sul. Facilmente adaptável a diversos ambientes, desde florestas temperadas até savanas, a abelha africana é considerada uma espécie bastante agressiva. "Ela expulsa as espécies nativas, como o tucano e a arara, de seus habitats, passando a ser um mega problema. Por ser muito difícil de controlar, ela gera uma consequência ambiental e social especialmente grave", afirma a engenheira florestal e presidente do Instituto Hórus Sílvia Ziller.
Coral-sol
Com nome científico de Tubastraea coccínea, o coral-sol foi introduzido em pontos da costa brasileira, especialmente em regiões portuárias, como Itajaí (SC) e São Sebastião (SP), também pelo sistema de água de lastro, a água do mar com a qual são carregados os porões dos navios. Originário da região ocidental do oceano pacífico, o coral-sol é um dos corais mais comercializados do mundo, e é considerado muito competitivo, por apresentar substâncias químicas nocivas e se reproduzir rapidamente. "O coral-sol vai crescendo em rochas e em baixo d'àgua, expulsando qualquer outra espécie que possa se fixar no lugar, além das espécies nativas. Por isso, pode causar um impacto grande", destaca Sílvia.
Tartaruga-tigre-d'àgua e tartaruga-americana
Nativa do Rio Grande do Sul, a tartaruga tigre-d'água (Trachemys dorbigni) passou a ser vendida em todo o país, cruzando com a tartaruga-americana (Trachemys scripta), originária dos Estados Unidos. Dessa forma, foi gerada uma terceira espécie, resultado do cruzamento entre as tartarugas gaúcha e americana. "Quando começou a ser vendida em todo o país, a Trachemys dorbigni virou invasora, pois as pessoas em geral não sabem o tamanho que ela atinge quando adulta, e acabam se assustando e soltando o animal.
Essa espécie também vive muitos anos, podendo até morrer depois dos seus donos. Quando solta, ela compete com espécies nativas e, com o cruzamento entre as duas tartarugas e o surgimento de um terceiro tipo, ela tende a ter menos predadores, pois agora existem três espécies", ressalta Sílvia Ziller.

Esta notícia foi publicada em 14/04/2012 no Terra. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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