Biologia & Ciências
24/10/2011
Mais crianças com doenças de adultos
Doenças que antes atingiam apenas adultos e idosos começam a aparecer precocemente na infância devido a maus hábitos de vida. Hipertensão, obesidade e diabete se transformaram em um problema de saúde pública porque crianças e jovens têm se alimentado inadequadamente e são sedentários. Embora pareça um contrassenso em uma sociedade que está ficando mais longeva, os meninos e as meninas de hoje estão mais expostos a patologias antes restritas à idade adulta.A obesidade entre jovens brasileiros aumentou 239% nos últimos 20 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, 35,6% das crianças com 9 anos estão acima do peso e 12,2% são consideradas obesas. Como a gordura corporal está associada a diversas patologias, meninos e meninas começam a ser vítimas de “novas” doenças. E mais: as patologias poderiam ser revertidas com simples alterações, como alimentação saudável e atividade física.
Outros dados também confirmam que as crianças brasileiras estão menos saudáveis. A diabete tipo 2 – ocasionada pelo excesso de gordura, que prejudica a absorção da insulina – está se tornando mais comum na infância. Relatório da Federação Internacional de Diabetes revela que, até 2025, 380 milhões de pessoas no mundo vão desenvolver o problema.
Há duas décadas, garotos e garotas com diabete apresentavam principalmente a do tipo 1, causada por um distúrbio genético. A doença do tipo 2 atingia apenas 3% das crianças doentes, mas as mudanças na alimentação e o sedentarismo fizeram com que o porcentual alcançasse 45% em alguns países desenvolvidos. A hipertensão infantojuvenil também preocupa. Um estudo realizado pela Universidade Federal da Bahia mostrou que 14% das crianças e adolescentes têm incidência de pressão arterial elevada. Foram avaliados 1.125 estudantes, entre 7 e 14 anos, da rede pública de ensino de Salvador.
Causas
O impacto que essa transformação pode causar é preocupante. Já no início da vida adulta, as pessoas poderão desenvolver enfermidades graves, como enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), hoje mais comuns na velhice. Se não tratados, problemas como hipertensão e diabete podem levar a uma existência à base de medicamentos e ao aumento do risco de mortalidade.
Coordenadora do Comitê da Criança da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Carla Lantieri explica que a hipertensão essencial – aquela que não está associada a outra doença, como patologias renais e endócrinas – e a diabete tipo 2 são desenvolvidas a partir de determinados fatores de risco, que podem ser modificáveis. “Observamos que a doença na fase adulta teve progressão silenciosa durante a infância,” diz Carla.
Nefrologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, Lucimary de Castro Sylvestre argumenta que a ciência precisará elaborar estudos para acompanhar o crescimento das crianças portadoras das “doenças de adultos” e avaliar os prejuízos para a saúde a longo prazo.
Esta notícia foi publicada em 23/10/2011 no sítio gazetadopovo.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.