Biologia & Ciências
10/02/2011
Pesquisa sugere nova forma de tratar o câncer de mama
Uma década e meia atrás, em qualquer caso de câncer de mama, todos os linfonodos da axila eram retirados. Atualmente o médico faz uma biópsia do linfonodo sentinela (o primeiro a drenar as células do tumor) e se o resultado é positivo para a presença do câncer, todos os linfonodos da região são retirados.Agora um novo estudo sugere que mulheres com câncer de mama em fase inicial não precisam retirar os linfonodos cancerígenos das axilas. As conclusões, por enquanto, só valem para pacientes com características similares às estudadas. Especialistas ouvidos pelo Estado dizem que é preciso mais evidências antes de mudar a rotina médica.
O estudo, publicado na revista da Associação Médica Americana, foi realizado em 115 centros médicos e incluiu 891 pacientes com idade média de 50 anos. As mulheres foram acompanhadas por cerca de seis anos.
Depois que a biópsia do linfonodo sentinela - primeiro a drenar as células do tumor - confirmou a presença do câncer, as mulheres foram escolhidas aleatoriamente para terem removidos ou não dez ou mais linfonodos adicionais. Em 27% das que se submeteram à remoção, os linfonodos eram cancerígenos. Mas, após seis anos, os dois grupos não apresentaram diferença em termos de sobrevida.
Mais de 90% delas sobreviveram pelo menos cinco anos. Os índices de recidiva nas axilas foram similares, menos de 1%. De acordo com os pesquisadores, o retorno do câncer sob o braço costuma ocorrer muito cedo, de modo que o período de acompanhamento foi longo o suficiente.
A conclusão, portanto, é que para as mulheres que atendam aos critérios do estudo - cerca de 20% das pacientes - , a retirada dos nódulos da axila não acarreta nenhum benefício. Além disso, pode haver complicações como infecção, dor ou perda de sensibilidade no ombro e linfedema, inchaço crônico do braço que afeta entre 20% e 30% das pacientes.
Em todas as mulheres que participaram do estudo, o tumor estava em estágio inicial - tinha menos de 5,08 cm. As biópsias de um ou dois nódulos das axilas comprovaram o câncer, mas os linfonodos não estavam inchados o suficiente para serem sentidos durante a apalpação e o câncer não havia se espalhado. Por último, todas as mulheres se submeteram a uma lumpectomia - cirurgia que retira o tumor, mas preserva a mama - e a radioterapia do seio inteiro e quimioterapia ou terapia hormonal.
Não se sabe se as conclusões se aplicam às mulheres que não se submeteram a uma radioterapia ou quimioterapia ou àquelas que tiveram toda a mama retirada. Não ficou claro também se elas podem ser aplicadas a outros tipos de câncer.
"O fato de as pacientes terem passado por rádio e quimioterapia pode ter diminuído o risco de recidiva do tumor", diz Afonso Nazário, chefe do Departamento de Ginecologia da Unifesp. Ele explica que antigamente se costumava retirar todos os linfonodos da axila nas pacientes com câncer de mama. Hoje a recomendação é realizar a biópsia no linfonodo sentinela - apenas quando o resultado é positivo para câncer os médicos retiram os demais linfonodos.
Nos Estados Unidos, alguns centros médicos estão mudando essa conduta com base nas novas informações. O Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Manhattan, mudou suas práticas em setembro, pois os médicos sabiam dos resultados do estudo antes de ele ser publicado. A Sociedade Americana de Câncer, no entanto, ainda não alterou suas diretrizes oficiais, pois espera que outras equipes consigam reproduzir os resultados desse estudo inicial.
"Aqui também estamos cautelosos e aguardando mais evidências", diz Nazário.
"É uma mudança de pensamento tão radical que é difícil para muitas pessoas se convencerem", afirma Monica Morrow, chefe da área ligada a câncer no Sloan-Kettering Cancer Center e uma dos autoras do estudo.
Esta notícia foi publicada em 10/02/2011 no sítio estadao.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
Mais de 90% delas sobreviveram pelo menos cinco anos. Os índices de recidiva nas axilas foram similares, menos de 1%. De acordo com os pesquisadores, o retorno do câncer sob o braço costuma ocorrer muito cedo, de modo que o período de acompanhamento foi longo o suficiente.
A conclusão, portanto, é que para as mulheres que atendam aos critérios do estudo - cerca de 20% das pacientes - , a retirada dos nódulos da axila não acarreta nenhum benefício. Além disso, pode haver complicações como infecção, dor ou perda de sensibilidade no ombro e linfedema, inchaço crônico do braço que afeta entre 20% e 30% das pacientes.
Em todas as mulheres que participaram do estudo, o tumor estava em estágio inicial - tinha menos de 5,08 cm. As biópsias de um ou dois nódulos das axilas comprovaram o câncer, mas os linfonodos não estavam inchados o suficiente para serem sentidos durante a apalpação e o câncer não havia se espalhado. Por último, todas as mulheres se submeteram a uma lumpectomia - cirurgia que retira o tumor, mas preserva a mama - e a radioterapia do seio inteiro e quimioterapia ou terapia hormonal.
Não se sabe se as conclusões se aplicam às mulheres que não se submeteram a uma radioterapia ou quimioterapia ou àquelas que tiveram toda a mama retirada. Não ficou claro também se elas podem ser aplicadas a outros tipos de câncer.
"O fato de as pacientes terem passado por rádio e quimioterapia pode ter diminuído o risco de recidiva do tumor", diz Afonso Nazário, chefe do Departamento de Ginecologia da Unifesp. Ele explica que antigamente se costumava retirar todos os linfonodos da axila nas pacientes com câncer de mama. Hoje a recomendação é realizar a biópsia no linfonodo sentinela - apenas quando o resultado é positivo para câncer os médicos retiram os demais linfonodos.
Nos Estados Unidos, alguns centros médicos estão mudando essa conduta com base nas novas informações. O Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Manhattan, mudou suas práticas em setembro, pois os médicos sabiam dos resultados do estudo antes de ele ser publicado. A Sociedade Americana de Câncer, no entanto, ainda não alterou suas diretrizes oficiais, pois espera que outras equipes consigam reproduzir os resultados desse estudo inicial.
"Aqui também estamos cautelosos e aguardando mais evidências", diz Nazário.
"É uma mudança de pensamento tão radical que é difícil para muitas pessoas se convencerem", afirma Monica Morrow, chefe da área ligada a câncer no Sloan-Kettering Cancer Center e uma dos autoras do estudo.
Esta notícia foi publicada em 10/02/2011 no sítio estadao.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.