Biologia & Ciências
10/08/2010
Probióticos benéficos a portadores da doença de Crohn
Isabel Gardenal - Jornal da UnicampOs achados se mostraram animadores, com os pesquisadores observando redução da ocorrência de diarreia assim como melhora do estado nutricional dos portadores de inflamação intestinal crônica.
O uso de probióticos - microrganismos vivos que conferem benefícios à saúde das pessoas quando administrados em quantidades adequadas - nos portadores da Doença de Crohn, uma das principais enfermidades inflamatórias intestinais, mostrou-se eficiente no controle da diarreia, sintoma frequente nestes pacientes.
A conclusão é de uma pesquisa de Luciane Cristina Rosim Sundfeld Giordano e Cláudio Coy, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Os pesquisadores investigaram os efeitos da modulação da microbiota intestinal dos pacientes pela suplementação oral das bactérias Lactobacillus casei e Bifidobacterium breve. Os achados se mostraram animadores, com os pesquisadores observando redução da ocorrência de diarreia assim como melhora do estado nutricional.
Doença de Crohn
Infelizmente, diz Luciane, a doença de Crohn não é tão rara, lamenta ela, e 424 portadores da doença estão cadastrados e em acompanhamento na Unicamp.
Na pesquisa, a nutricionista identificou que um grande número de pacientes com doença de Crohn apresentava diarreia de difícil resolução. Propôs então o desenvolvimento de um projeto envolvendo o uso de probióticos para avaliar a sua efetividade.
Ela lembra que estes pacientes, na fase de atividade da doença, chegam a apresentar até 25 episódios de evacuações ao dia. "Esta é uma doença crônica que acomete principalmente os indivíduos jovens, podendo atingir todo o trato gastrointestinal, isso com repercussões graves como a desnutrição, por exemplo."
A pesquisadora trabalha na Divisão de Nutrição e Dietética do HC supervisionando a área de preparo de dietas enterais há mais de 15 anos, além de desenvolver seu trabalho nas enfermarias e nos ambulatórios de Gastro bem como membro da equipe multiprofissional de terapia nutricional.
Em meados de 2006, o projeto teve então seu início com o intuito de se verificar a ação de um probiótico especial que continha duas cepas (Lactobacillus e Bifidobacterium) na frequência do hábito intestinal e no estado nutricional. "Dados da literatura demonstraram que 70% a 80% dos pacientes hospitalizados com doença de Crohn ativa possuíam graus variados de desnutrição secundária à diarreia", expõe a pesquisadora. Pelo fato de a doença não ter cura, torna-se portanto fundamental o acompanhamento nutricional, para que a resposta ao tratamento seja mais eficiente."
Inflamação crônica
Luciane selecionou 22 pacientes com idade média de 22 anos por ocasião do diagnóstico. Um dos fatores mais impactantes desta doença, conta, é o fato de seu acometimento ser mais frequente em adultos jovens, numa fase da vida em que eles deveriam estar bastante produtivos. Porém, em função do aparecimento da doença, ocorrem diversas limitações.
Acredita-se que o seu desenvolvimento, a partir do contato com substâncias com potencial de iniciar um processo inflamatório primariamente intestinal, sejam oriundas da alimentação ou de microrganismos presentes no próprio intestino.
"Esta inflamação, que deveria ser de curta duração, torna-se crônica em indivíduos predispostos. Assim, parece lógico supor que a modulação da microbiota intestinal possa alterar diversos aspectos da doença. Este conceito é que orienta inúmeros trabalhos existentes com probióticos na doença de Crohn," recorda Cláudio Coy.
Luciane esclarece que, na doença de Crohn, ocorre um desequilíbrio da microbiota intestinal. Quando o indivíduo está saudável, existe um padrão na população bacteriana e, nos portadores dessa doença, há uma quantidade reduzida sobretudo de Bifidobacterium, mas também de Lactobacillus, bactérias com ações benéficas ao organismo. Isto explicaria porque esta doença manifesta-se predominantemente no final do intestino delgado e cólon (intestino grosso) - segmentos do tubo digestivo com maior quantidade de bactérias.
Esta notícia foi publicada em 09/08/2010 no sítio diariodasaude.com.br . Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.