Biologia & Ciências
08/07/2010
Célula "segura" ajuda roedor paraplégico
Roedores paralisados por lesões na medula espinhal voltaram a se movimentar, graças a células adultas reprogramadas para assumir um estado muito versátil, semelhante ao embrionário.O feito, obra de uma equipe japonesa, inclui um esquema para evitar que essas células saiam do controle, um dos grandes temores que ainda cercam o emprego terapêutico delas em pessoas.
Antes de usar determinado grupo de células para tratar os camundongos paraplégicos, os cientistas verificaram se elas levavam à formação de tumores em outros bichos.
As que não produziram cânceres tiveram sucesso em recuperar a lesão na coluna das cobaias, relata a equipe na revista científica “PNAS”.
Um dos autores da pesquisa, Shinya Yamanaka, é o pioneiro no estudo das chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (ou células iPS, para encurtar).
Yamanaka e companhia têm mostrado que qualquer célula do corpo adulto pode ser forçada a adquirir uma “síndrome de Peter Pan”, voltando à condição polivalente que tinha no início do desenvolvimento.
Seria possível usar uma amostra de pele de um tetraplégico e “convencer” algumas das células nessa amostra a se tornarem pluripotentes, ou seja, capazes de assumir a função de qualquer tecido. Inclusive a do tecido nervoso destruído na lesão que paralisou a pessoa.
Assim, o paciente ganharia um transplante sem risco de rejeição, já que as células vieram do organismo dele. O plano soa perfeito, mas a transformação das células envolve a ativação de genes que, dependendo da situação, podem levar à indesejada formação de tumores.
Para evitar isso, os cientistas primeiro produziram células iPS e depois usaram-nas para criar neuroesferas, agregados de vários tipos de células do sistema nervoso.
“Eles ainda desfizeram essa primeira neuroesfera e criaram uma segunda, o que diminui a chance de sobrar alguma célula indiferenciada [em estado "genérico'] que pudesse levar a tumores”, explica o biólogo Stevens Rehen, especialista em iPS da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Finalizando o processo, as neuroesferas foram implantadas no cérebro de camundongos, e os cientistas esperaram para ver quais grupos de células produziam tumores nos camundongos.
Sabendo disso, os japoneses testaram os dois tipos de célula nas cobaias com lesões: as que produziam tumores e as que não os geravam. Como esperado, só o segundo tipo fez os bichos ficarem em pé de novo.
“É uma prova de princípio interessante”, diz Rehen. “O problema é que eles esperaram 24 semanas para ver se os tumores apareciam na triagem inicial. É tempo demais, porque a lesão dos pacientes já estaria cicatrizada, dificultando a volta dos movimentos”, afirma ele.
Por isso, Yamanaka tem defendido a criação de bancos públicos de células iPS, já testadas. Quando alguém sofresse um acidente, elas poderiam ser usadas com segurança sem muita espera.
Esta notícia foi publicada em 07/07/2010 no sítio noticias.ambientebrasil.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.