Biologia & Ciências
19/05/2010
Incêndio no Butantan
Por Herton EscobarUm incêndio ocorrido no sábado, dia 15, no laboratório de répteis do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo, destruiu milhares de espécimes de cobras e de aracnídeos, incluindo exemplares ainda não descritos pelos cientistas. Nenhum dos animais estava vivo.
Toda a coleção de cobras do Butantan - um total de aproximadamente 85 mil exemplares, a maior coleção do mundo de animais da região tropical - foi perdida no incêndio. Centenas de espécimes desses répteis que haviam sido coletadas pelos biólogos ainda não haviam sido descritas. Entre os aracnídeos - em especial aranhas e escorpiões -, a perda foi de cerca de 450 mil espécimes, das quais milhares ainda não tinham sido descritas pelos cientistas do instituto.
A princípio pensou-se que, junto com os animais preservados no laboratório, haviam sido destruídos os livros de tombo, que continham os registros de coleta dos espécimes, de suas características e suas condições, mas depois confirmou-se que eles foram salvos. O incêndio começou entre 7 e 8 horas da manhã e foi controlado por volta das 10 horas por dez viaturas e 50 homens do Corpo de Bombeiros, quando foi iniciada a operação de rescaldo. Não houve feridos.
Uma perícia foi realizada no local e a previsão é de que o resultado seja divulgado em 30 dias. Mas suspeita-se que o incêndio tenha sido causado por um curto-circuito. Durante a noite, a chave-geral do prédio havia sido desligada para serviços de manutenção na rede elétrica. O fogo começou quando a energia foi religada, de manhã.
Patrimônio insubstituível
O diretor do Instituto Butantan, Otávio Azevedo Mercadante, afirmou que "o estrago foi muito grande". "O prejuízo material, você recupera. O científico, não." Para o herpetólogo - especialista em répteis e anfíbios - Miguel Rodrigues, da Universidade de São Paulo (USP), o incêndio foi um desastre de proporções incalculáveis. "Perdemos um patrimônio insubstituível da história biológica do País", resume.
História
O Instituto Butantan surgiu em 1898, estimulado por um surto epidêmico de peste bubônica no porto de Santos, e sua criação foi oficializada em 1901. Treze anos mais tarde, foi inaugurado o Prédio Central do Instituto. É um centro produtor de vacinas e importante pesquisador biomédico, dependente do governo de São Paulo.
O laboratório trabalha em vários projetos sobre o uso de venenos répteis, que estavam sendo usados no combate de doenças como Leishmaniose e o mal de Chargas. Recentemente, o Butantan também tem sido o órgão público responsável pela produção de vacina da gripe H1N1, a partir de amostras fornecidas pelo laboratório francês Sanofi Pasteur.
Este conteúdo foi publicado em 15/05/2010 no site Estadão. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.