Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

13/09/2007

Soja transgênica brasileira

Depois de 12 anos de pesquisas, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Brasília, em parceria com a multinacional alemã Basf, concluiu a fase de desenvolvimento tecnológico e de testes no campo da primeira planta de soja transgênica brasileira.

A nova variedade, que é resistente a herbicidas, deverá estar no mercado até 2011. O produto geneticamente modificado foi desenvolvido inteiramente no Brasil, de acordo Elibio Rech, geneticista e engenheiro agrônomo da Embrapa que coordenou a pesquisa.

A inovação está na modificação do genoma da planta da soja com a inserção de um único gene, o Ahas, extraído da Arabidopsis thaliana, planta usada na produção de herbicidas da classe imidazolinonas. Os experimentos foram realizados no Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen) da Embrapa.

Com isso, quando se aplica esse tipo de herbicida na lavoura para a eliminação de ervas daninhas, a soja transgênica não sofre seus efeitos. O gene Ahas foi patenteado pela Basf e a Embrapa também depositou um pedido da tecnologia de transformação genética no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Resistente à classe de herbicidas imidazolinonas, o novo produto concorrerá com sementes de soja tolerantes ao glifosato, cujo uso pode apresentar vantagens econômicas em relação às sementes convencionais (leia em reportagem da Agência FAPESP).

“Não podemos falar em monopólio, mas as sementes de soja tolerantes aos herbicidas à base de glifosato representam o único produto do tipo disponível no mercado brasileiro”, disse Elibio Rech à Agência FAPESP. “O nosso será mais uma opção aos sojicultores brasileiros para a redução de custos de produção com a aplicação racional de herbicidas visando o controle das plantas daninhas.”

“A diferença é que utilizamos imidazolinonas, o que contribui tanto para a maior concorrência da planta de soja brasileira no exterior como também para a redução do preço dos herbicidas vendidos aqui no país”, disse.

Segundo o geneticista, o meio ambiente também seria menos prejudicado com uma segunda variedade de soja transgênica no mercado. “Ao alternar o plantio com grãos e herbicidas distintos nas safras, os produtores conseguirão reduzir o surgimento de ervas daninhas resistentes a um único tipo de produto químico”, afirmou.

Regulamentação nacional e global

Os pesquisadores da Embrapa e da Basf estão realizando estudos de avaliação de segurança alimentar e ambiental para, em 2008, submeter a nova tecnologia à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), atendendo às exigências da Lei de Biossegurança.

Segundo Rech, a nova variedade de soja deverá estar disponível no mercado em 2010. “Com a possível aprovação da CTNBio para comercialização, vamos cumprir todas as etapas de produção de sementes em larga escala. Devemos lançar o produto comercial em 2010 para os produtores de sementes e, em 2011, para os produtores de soja”, disse.

Com base nos testes de campo da Embrapa, em que o cultivo das sementes transgênicas foi realizado em dez áreas diferentes do país com solos e climas variados, a expectativa é que a soja ganhe 20% do mercado nacional. “Faz parte também do pacote tecnológico que será disponibilizado em 2011 a criação de um herbicida à base de imidazolinonas específico para a planta transgênica brasileira”, destacou.

De acordo com o pesquisador, como em todo evento novo de biotecnologia, é também necessária a aprovação de países compradores de soja do Brasil. Por isso, a nova tecnologia deverá ser regularizada simultaneamente em mais de 20 países para permitir o uso doméstico e internacional do grão e seus derivados.

Os royalties provenientes da venda da tecnologia serão divididos igualmente entre a Embrapa e a Basf, com base em um acordo de cooperação técnica comercial mantido pelas duas instituições. Foram investidos até o momento mais de R$ 13 milhões nos estudos e no desenvolvimento tecnológico da nova variedade de soja transgênica.

Por Thiago Romero

Agência FAPESP

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