Biologia & Ciências
24/10/2016
Rio Tietê
Rio Tietê só tem água boa onde tem mata ao seu redorMonitoramento da água do rio, que revelou que trecho de 133 km está morto, apontou que os únicos 30 pontos em que a qualidade da água foi considerada boa são aqueles em que a cobertura vegetal passa, em média, de 40% do território.
Regiões ao longo das bacias hidrográficas do Rio Tietê que têm maior cobertura vegetal são as que concentram os pontos do rio com a melhor qualidade de água. O resultado, que pode parecer meio óbvio, nunca, na verdade, tinha sido mensurado para o rio. A relação foi detalhada no mais recente monitoramento do Tietê feito pela Fundação SOS Mata Atlântica.
Na semana passada, a organização revelou que um trecho de 137 km do rio se mantém com qualidade da água ruim ou péssima e que apenas 30 dos 302 pontos de coleta monitorados têm qualidade boa.
Nesta quinta-feira, 29, a organização apresenta em um seminário mais dados sobre o que faz desses pontos tão especiais. Segundo Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas, além da presença de saneamento básico, é a presença de vegetação que faz a diferença.
A análise cruzou os resultados do monitoramento dos corpos d’água com os dados do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, levando em consideração trechos de até 1 hectare de cobertura florestal. A conclusão foi que nos 30 pontos em que a qualidade de água foi considerada boa ao longo do último ano, a cobertura florestal ultrapassava, em média, 40% do território do município ou do entorno.
Na cidade de São Paulo, é o caso, por exemplo, de um ponto de coleta na Represa Billings que ainda está com a vegetação preservada e na região da Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos. E, no interior, em Biritba Mirim, Salesópolis, e a parte rural de Mogi, onde há áreas protegidas. Na Bacia do Rio Piracicaba, por exemplo, onde houve um aumento da cobertura nos últimos anos, com recuperação de mata ciliar, a qualidade da água, que era ruim nos monitoramentos anteriores, melhorou no último.
“A mata evita processo de erosão e o arrasto de sedimentos e de poluição difusa da cidade ou do campo para dentro do rio, problema que se reflete no índice de turbidez da água”, explica Malu, que frisa que não adianta só tratar esgoto se continua chegando poluição difusa.
“Temos trechos em São Paulo, como na marginal Tietê, onde não tem nenhuma árvore, em que o índice de turbidez passa de mil, quando o recomendável é menos de 100. É uma fuligem fina, que vem do asfalto carregada pela chuva, que não decanta. Por dias, impede a transparência da água. A luz do Sol não passa, não tem fotossíntese, o rio fica sem oxigênio e morre”, complementa.
A bióloga lembra que a presença da mata também tem impacto ao ajudar na manutenção do ciclo hidrológico. “Sem mata, perdemos quantidade e qualidade da água. Se quebra o ciclo hidrológico, perdemos nascentes, temos alteração do clima e, quando chove, ocorre erosão, causando assoreamento, o que faz o rio perder capacidade de armazenamento de água.”
Esta notícia foi publicada em 29/09/2016 no site sustentabilidade.estadao.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.