Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

28/05/2015

Recuo no desmatamento

Desmatamento da Mata Atlântica recua 24% em relação ao ano anterior, aponta Atlas dos Remanescentes Florestais

Por Suzana Camargo - Planeta Sustentável

Estudo elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE revela que, em alguns estados brasileiros, a meta de desmatamento zero do bioma está quase alcançada. Todavia, em regiões do Piauí e da Bahia, a expansão do cultivo de grãos ainda provoca a derrubada de grandes áreas de vegetação nativa.

Na data em que se comemora o Dia Nacional da Mata Atlântica, o país recebe notícias a serem celebradas. Em 2014, o desmatamento da grande cobertura vegetal que cobre a costa atlântica brasileira foi o menor registrado nos dois últimos anos. Em relação a 2013, a queda foi de 24%.

Entretanto, o desafio ainda é grande. Nos 17 estados em que os vestígios originais deste bioma ainda se fazem presente, foram desmatados 18.267 hectares ou 183 Km2 de remanescentes florestais - o equivalente a 18 mil campos de futebol.

Os dados, resultado do trabalho e parceria da Fundação SOS Mata Atlântica com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram divulgados hoje (27/05), com a publicação do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, relatório que é feito desde 1990.

O destaque negativo desta edição ficou com o Piauí. O estado registrou a maior perda de vegetação nativa: 5.625 hectares, ou seja, quase 30% do desmatamento total da Mata Atlântica observado em 2014. O município responsável por este número lastimável é Eliseu Martins, onde imensas áreas foram deflorestadas.

A explicação para a derrubada da vegetação é a mesma que devasta outros biomas brasileiros: a expansão da agricultura. O sul do Piauí concentra grande movimento de produção de grãos, já indicado no estudo anterior. Situação parecida acontece no oeste da Bahia, mais especificamente em Baianópolis, o segundo município que mais desmatou Mata Atlântica no país, justamente em área de transição deste bioma com o Cerrado e a Caatinga, por isso ainda mais importante que seja protegida.

"Sabemos que a expansão agrícola é um importante ativo econômico para o Brasil, mas não podemos continuar a conviver com um modelo de desenvolvimento às custas da floresta nativa e de um Patrimônio Nacional", alerta Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica. "Entraremos com solicitações de moratórias de desmatamento nesses dois Estados (Piauí e Bahia). Nossa sociedade não aceita mais o desmatamento como o preço a pagar pela geração de riqueza".

A moratória a que Mantovani se refere impede a concessão de licenças e autorizações para supressão de vegetação nativa do bioma por ordem do governo. A ação foi realizada em 2013 em Minas Gerais e já deu bons resultados. O estado mineiro reduziu em 34% o desmatamento em 2014, em relação ao ano anterior. Mas ainda assim, aparece como o segundo do Brasil que mais derrubou florestas no mesmo período.

Dos estados que ainda possuem remanescentes da Mata Atlântica, três deles apresentaram aumento nos indíces de desmatamento, comparado ao relatório passado: Santa Catarina (3%), Rio de Janeiro (4%) e Espírito Santo (41%).

Em movimento contrário, Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Sul são os locais onde a queda do deflorestamento foi a maior registrada. Vale lembrar, todavia, que em algumas regiões, já houve tanto desmatamento nas últimas décadas, que o recuo na derrubada da floresta nem sempre é sinal de comemoração. Mostra que simplesmente não há mais o que devastar.

O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica não identificou supressão de vegetação em áreas de mangue, encontradas sobretudo na Bahia, Paraná, São Paulo e Sergipe. Já em restingas, houve declínio de 309 hectares, percebido principalmente no Ceará (193 hectares).

De acordo com a análise dos pesquisadores, nove estados brasileiros estão próximos à meta do desmatamento zero. A conquista leva à nova etapa da conservação da Mata Atlântica - a hora de iniciar o reflorestamento. "Os 12,5% da Mata Atlântica que restam de pé, com suas paisagens e beleza cênica, são um patrimônio natural com potencial turístico invejável. Prestam ainda diversos serviços ambientais, como a conservação das águas que abastecem nossas cidades e a estabilidade dos solos, tão essenciais à agropecuária", afirma Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica e coordenadora do Atlas. "Preservar o que restou e restaurar o que se perdeu precisa ser uma agenda estratégica para o país".

Em encontro recente realizado no Rio de Janeiro, secretários do Meio Ambiente de diversos estados e entidades ligadas ao setor começaram a elaborar uma carta conjunta. Intitulado Uma nova história para a Mata Atlântica, o documento deve consolidar o compromisso das autoridades em ampliar a cobertura florestal nativa e perseguir a meta de zerar o desmatamento ilegal no bioma até 2018.

A Mata Atlântica cobria originalmente 1.309.736 km2 do território brasileiro. Entre 1985 e 1990, chegaram a ser desmatados 536 mil hectares de vegetação. É por isso que se considera uma boa notícia quando constata-se que em 2014 esse número caiu para apenas 18 mil hectares. Mas ainda estamos longe do ideal. Motivo de comemoração mesmo acontecerá quando começar a ser registrada a recuperação e o consequente crescimento de área florestal do bioma atlântico.

Esta notícia foi publicada no site planetasustentavel.abril.com.br em 27/05/2015. Todas as informações contidas são de responsabilidade do autor.
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